O Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), por meio da Diretoria de Pesquisa, juntamente com a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (ADAGRO), realizaram durante os dias 27, 28 e 29 de setembro, ações para capacitar pesquisadores, extensionistas e fiscais agropecuários sobre o patossistema Sigatoka Negra x bananeira. A doença foliar é uma das mais destrutivas da bananeira no mundo, sendo oficialmente detectada no mês de julho de 2022, em plantios no estado de Pernambuco. Para realizar a capacitação, o engenheiro agrônomo e fitopatologista do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Dr. Wilson da Silva Moraes foi convidado, o qual possui vasta experiência com a Sigatoka Negra e demais doenças quarentenárias da bananeira.

As ações consistiram de palestras no primeiro dia do evento, com amplas informações sobre o patossistema em estudo e sobre a Fusariose raça 4, doença quarentenária A1 da cultura da bananeira; em sequência, no segundo dia foram realizadas visitas técnicas a plantios infectados com a Sigatoka Negra e Fusariose raça 1, nos municípios de Bezerros e Vitória de Santo Antão, para verificação da sintomatologia em campo; e, por fim, no último dia, todo o material coletado em campo foi analisado nas dependências do Laboratório de Fitopatologia (LAF).

Pela manhã do dia 27, o especialista apresentou na palestra sobre a Sigatoka Negra, detalhes das fases/sintomatologia e informações acerca do manejo/controle da doença. Os primeiros sintomas são pequenas pontuações marrons entre as nervuras do limbo foliar, na face abaxial da folha, que evoluem para traços, estrias e, posteriormente, manchas. As lesões aumentam em tamanho, tornando-se fusiformes ou elípticas, culminando com a necrose dos tecidos foliares, tornando as folhas enegrecidas, resultando no aspecto característico da doença. No período da tarde, Dr. Wilson apresentou a palestra sobre Fusariose causada por Fusarium oxysporum f.sp. cubense raça 4 (FOC R4T), a doença mais destrutiva da cultura no mundo, para a qual não existe tratamento químico ou mesmo material resistente disponível. Segundo o especialista, a raça 4 do fitopatógeno ainda não se encontra presente no Brasil, no entanto, já foi detectada em países vizinhos, como a Colômbia (em 2019) e o Peru (em 2021), ressaltando a importância de iniciar o acompanhamento preventivo nas áreas de produção, afim de nos prepararmos para sua possível introdução no país.

No segundo dia de atividades (28), visitas as áreas de plantio foram realizadas para observação dos sintomas in loco nas plantas doentes, o qual serviu para diferenciação da sintomatologia de outras doenças e pragas, que podem incidir nas plantas de bananeira e inicialmente confundir o diagnóstico da doença. Ressaltou ainda que a identificação precoce da sintomatologia em campo, resulta na adoção rápida de medidas de manejo, afim de manter sob controle a severidade da doença e minimizar as perdas econômicas devido a diminuição da produção/produtividade da cultura.

No último dia do evento (29), as amostras coletadas nas áreas de plantio foram analisadas no LAF, onde os tecidos infectados e os sinais foram observados utilizando lupas e microscópios. No tecido de folhas jovens afetadas pela Sigatoka Negra foram observadas na lupa, a presença de pequenas pontuações de coloração marrom, conforme explicado durante a palestra, esses são os sintomas iniciais da infecção, os quais também podem ser observados com lupa de bolso, em campo. Além disso, no tecido necrosado foram observados numerosos corpos de frutificação globosos (peritécios), de tamanho pequeno, coloração negra, que contêm estruturas chamadas de ascos, nos quais encontram-se o ascóporos de Mycosphaerella fijiensis (fase perfeita do fungo). Estruturas de Paracercospora fijiensis (fase imperfeita do fungo) também foram observadas durante as análises dos sinais. Ressaltou ainda, a importância de confirmação das estruturas do fitopatogneo em laboratório, com a finalidade de fechar o diagnóstico da doença.

A Diretoria de Pesquisa do IPA e a ADAGRO, proporcionaram a seus funcionários e colaboradores a capacitação e qualificação necessárias para identificação de sintomas e sinais da Sigatoka Negra, visando desta forma a identificação precoce da doença e, consequentemente, a adoção de manejo adequado para conviver com mais esta ameaça a cultura da bananeira no estado de Pernambuco.