Como as ondas de calor podem tornar os territórios inabitáveis

No cenário atual de crescimento das emissões dos gases de efeito estufa (GEF), no mundo e no Brasil, as projeções dos modelos climáticos sugerem aquecimentos significativos com variações positivas de até 6ºC em várias regiões do país. O sexto relatório – AR6, do IPCC (IPCC, 2023) indica que o uso inadequado e desigual do planeta terra e sua energia, oriundos da queima de combustíveis fósseis, causaram o aquecimento global, com a temperatura da superfície global atingindo 1,1°C a mais que no período de 1850 – 1900 em 2011–2020.

Os impactos adversos vêm acontecendo de forma generalizada com perdas e danos relacionados à natureza e às pessoas. Neste contexto, pode-se destacar a tragédia recente no Rio Grande do Sul. Segundo o mesmo relatório os compromissos de contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) até 2030 mostram que a temperatura continuará aumentando em até 1,5°C na primeira metade da década de 2030. O AR6 aponta que será muito difícil limitar o aumento, da temperatura na terra, em 2,0°C até o final do século XXI. A cada grau de aquecimento os riscos são múltiplos e em todas as regiões do mundo. Estudos realizados, pela NASA, publicados recentemente, mostram um cenário de aumento dos extremos de temperatura para o Brasil, sem precedentes. Regiões do Brasil podem se tornar inabitáveis nos próximos 50 anos, segundo o mesmo relatório. Em destaque, áreas do Centro-Oeste, do Sudeste, do Norte e do Nordeste do Brasil.

Por outro lado, as ações de mitigação e adaptação, seguem lentas e, se implementadas de forma rápida e sustentada ainda nesta década, poderiam reduzir significativamente as perdas e os danos aos humanos e aos ecossistemas. As ações de curto prazo envolvem investimentos vultuosos e mudanças radicais nas formas de produção e estilo de vida, para dizer o mínimo. Os impactos negativos das alterações climáticas podem ser atenuados pela adoção de uma série de políticas públicas que façam frente aos desafios impostos pela emergência climáticas e seu ritmo acelerado, a exemplo da prática de técnicas agrícolas de baixa emissão de carbono. Nossa janela de oportunidade está se fechando.

O agronegócio (modificações no uso do solo, desmatamento, queimadas, poluição de rios e nascentes …) é grande responsável pelas emissões de GGE que aumentam a incidência desses eventos climáticos extremos e tem sido atingido em cheio, com prejuízos pela diminuição de safras, secas e de chuvas em excesso, bem como, levado o país à insegurança hídrica e energética, dado que a base da matriz energética brasileira está estabelecida no insumo água.

Estudo feito pela Nasa mapeou as áreas mais vulneráveis do planeta, destacando o Brasil como um dos locais que enfrentarão mudanças climáticas graves. O mapeamento resultante destacou as áreas que se tornarão inabitáveis, mas também aquelas onde a vida poderá ser extinta.

As recentes crises energéticas colocam em evidência a dependência da matriz energética do país de seus recursos hídricos que são em grande parte dependente da variabilidade das chuvas, que por sua vez, depende das florestas e dos oceanos. As crises energéticas no Brasil têm características de curto prazo e vêm colocando a oferta de energia como prioridade estratégica negligenciando as preocupações ambientais. Parece, cada vez mais certo, que ações resolutas para a diminuição das emissões de GEE somente acontecerão após a ocorrência de catástrofes climáticas, simultâneas e sistemáticas.

Por Francis Lacerda

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NOTA TÉCNICA – Atualizações das alterações climáticas atuais e futuras: O caso de Pernambuco

Nos últimos anos vários trabalhos foram publicados com o propósito de avaliar os cenários resultantes do aumento global da temperatura e seus impactos nos oceanos, na atmosfera, na biosfera, nos seres vivos e nas sociedades humanas. O mês de junho de 2024 foi o mais quente para o período na história da humanidade, de acordo com dados divulgados pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus – sistema de observação da Terra da União Europeia, em 08/07/2024.

De acordo com relatório publicado pelo organismo, junho passado registrou uma temperatura média de 16,66ºC, 0,14ºC acima do recorde anterior, de 2023, e 0,67ºC maior que a média do período entre 1991 e 2020. O relatório divulgou que se trata do 13º mês consecutivo de recorde mensal de calor, reforçando as projeções que 2024 deve superar 2023 como ano mais quente na história. Em 2013 o quinto relatório do IPCC concluiu com confiança acima de 90% que o aquecimento global dos últimos é consequência do aumento da concentração de gases de efeito estufa de origem antrópica na atmosfera. E que o Nordeste é vulnerável às mudanças climáticas com processos de desertificação, eventos extremos (secas e chuvas intensas). Pernambuco é hotspot do clima.
A temperatura média global foi 1,64ºC acima da era pré-industrial, nos últimos doze meses, superando a marca de 1,5ºC – meta do Acordo de Paris para o fim deste século. Se essa tendência se mantiver, a humanidade deve conviver nas próximas décadas com aumento constante do nível do mar, ondas de calor mais frequentes e um crescente número de fenômenos extremos, incluindo furacões, secas, ondas de calor, enchentes etc…

Oceanos

As temperaturas da superfície do mar (TSM) também atingiram recordes máximos de anomalias positivas de temperaturas (valores acima do padrão normal) no Atlântico, Pacífico Norte e Índico gerando aumento das temperaturas e ondas em todo o planeta.
Em junho/2024, as TSM atingiram, por 15 meses consecutivos, valores significativos. Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e absorvem 90% do calor adicional associado ao aumento das emissões de gases do efeito estufa.
Atualmente, estamos entrando num período de resfriamento do Oceano Pacífico, a ‘La Niña’, que tem um efeito de diminuir a temperatura global nos próximos meses.
O observatório Copernicus divulgou que há 80% de probabilidade de que as temperaturas médias anuais da Terra superem, o limite de 1,5ºC nos próximos cinco anos. Os recordes tem graves consequências para a vida no planeta, como um todo, e que estão expostos a eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos.

Possíveis Impactos

No caso de Pernambuco, modelos indicam um aumento mínimo de 2ºC e máximo de até 8ºC no NEB (MCTI, 2016). As tendências nas séries históricas das temperaturas diárias máximas e mínimas evidenciaram um aumento de até 5ºC nos últimos cinquenta anos, no Semiárido. No caso da chuva, os estudos recentes sinalizam para duas situações: aumento da frequência de fenômenos extremos (chuvas mais fortes e veranicos prolongados), e redução da precipitação anual (com forte variabilidade) em regiões do Sertão de Pernambuco, com taxas de redução que atingem a casa dos 10 mm/ano. Essas análises remetem a projeções que poderão comprometer a segurança alimentar e hídrica em Pernambuco. Em síntese, os estudos revelaram diminuição das chuvas e aumento no número de extremos climáticos; áreas do semiárido se tornando mais áridas; temperaturas máximas e mínimas em elevação; diminuição na disponibilidade de água no solo e nas bacias hidrográficas e aumento da evapotranspiração. Essas alterações no clima associadas àquelas de natureza antrópica (e.g. desnudamento vegetal) estão causando perdas da biodiversidade e graves impeactos nos ecossistemas. O resultado dos estudos dos impactos da mudança do clima aponta para a necessidade de uma mudança de um novo paradigma socioeconômico em termos de desenvolvimento sustentável e harmônico. A vulnerabilidade social combinada aos efeitos negativos das mudanças climáticas sobre a oferta de alimentos deve agravar a insegurança alimentar. Portanto, as ações de segurança alimentar e nutricional para enfrentar as mudanças climáticas devem focar especialmente nas pessoas e setores sociais mais vulneráveis e em condições socioambientais precárias, que são os que mais sofrem com seus efeitos.

Por Francis Lacerda

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Artista plástico Petrônio Cunha visita IPA

Nesta quarta-feira (28), o artista plástico e arquiteto Petrônio Cunha visitou nossa sede localizada no Bongi, Recife.

O artista, que é responsável pelo belíssimo painel de azulejos que contorna nossa biblioteca e auditório nesse projeto do prédio do IPA, do Escritório AFM Arquitetos. Petrônio veio acompanhado do filho, juntamente com o arquiteto Luiz Amorim e do fotógrafo Fred Jordão. Foi uma visita de prospecção para a produção de material fotográfico para a criação de um livro sobre sua trajetória e obras.

Petrônio Cunha é responsável por vários painéis em azulejaria instalados pelo Recife, e sua arte está presente também em outros estados brasileiros e países.

Segundo o arquiteto Luiz Amorim, “com Petrônio Cunha, a azulejaria ganhou nova dimensão artística pela introdução de intensa variação escalar de padrões, exploração de cores e suas variações tonais e uma rica aproximação com as artes gráficas”.

O artista se encantou ao ver o prédio finalizado com o painel instalado pela primeira vez. “Puxa, como ficou bonito isso aqui. Estive aqui somente durante a construção. Estou surpreso com a imponência desse prédio”, disse.

O IPA agradece por essa arte tão especial que alegra nosso dia a dia de trabalho.

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Aconteceu na semana – 18 a 23 de maio

18 de maio – Engenheiros de pesca do IPA que compõem o GT para elaboração do Plano de Ação para controle e erradicação do peixe-leão participaram no dia 18 da segunda oficina coordenada pelo SEMAS, visando o planejamento e encaminhamentos para a consolidação do plano.

18 de maio – Equipe do IPA participa da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados em Garanhuns na Universidade Federal do Agreste de Pernambuco- UFAPE

O presidente do IPA, Joaquim Neto, equipe de diretores de Pesquisa, de Extensão e de Recursos Hídricos assistiram, junto a equipe técnica do Instituto, a exposição do panorama da cadeia produtiva leiteira apresentado pelos representantes do setor e também da ADAGRO.

18 de maio – Equipe do IPA visita à Gerência Regional do IPA em Garanhuns e a Estação Experimental de Brejão.

Na visita, o presidente do IPA Joaquim Neto e a equipe de diretores e técnicos da sede escutaram as demandas dos funcionários e percorreram as instalações da Estação.

19 de maio – O diretor de Infraestrutura Hídrica do IPA Pedro Henrique Nunes participou da abertura da Caprishow no município de Dormentes, Sertão de Pernambuco. Ele representou o Governo Estadual/ Instituto Agronômico de Pernambuco.

A Caprishow, é um dos mais tradicionais eventos voltados para caprinos do Nordeste. Nesta edição, a iniciativa reúne criadores de caprinos e ovinos dos estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas e Piauí.

22 de maio – Presidente do IPA recebe diretora médica do Hospital Ulysses Pernambuco

A diretora médica do Hospital Ulysses Pernambucano (Tamarineira) Elaine Souza, que junto a extensionista Ana Paula Silva, alinhou com o presidente do IPA, Joaquim Neto, ações para implantar o projeto de horta em área na extensão lateral do corredor de entrada da unidade psiquiátrica.

O projeto tem o objetivo de oferecer mais uma atividade terapêutica aos pacientes: a Hortaterapia. A iniciativa foi desenvolvida pelo grupo do hospital, extensionistas do IPA e equipes da UFRPE e Ceasa. Está previsto o cultivo de folhosas, legumes, flores entre outros tipos de vegetais.

23 de maio – IPA inicia articulação para empreender projetos com jovens da comunidade no entorno da sua sede.

O IPA iniciou os trabalhos para implantação do “Projeto Jovem Aprendiz IPA”, que vai abrir um programa de estágios para os alunos da Escola Educador Paulo Freire com carteira assinada e benefícios. Eles participarão de treinamentos e aulas práticas na área de administração no Instituto. A ação é realizada junto Renapsi – Rede Nacional de Aprendizagem e Integração. Também está prevista a criação de uma horta comunitária nas dependências da escola.

23 de maio – SEMAS e IPA: duas instituições governamentais que caminham alinhadas em diversos projetos.

No último dia 23, a secretária estadual do Meio Ambiente , Sustentabilidade e Fernando de Noronha, Ana Luiza Ferreira, e assessoria se uniu a equipe do IPA para analisar o questionário a ser aplicado na Ilha de Fernando de Noronha, visando implementação de projetos no arquipélago.

23 de maio – IPA se reúne com a Cooperativa Pernambucana de Agropecuária e Criadores de Organismos Aquáticos – COPACOA, representantes da Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho e SEBRAE.

Reunião visa cooperação Técnica para fortalecer a cadeia produtiva da pesca e Aquicultura. Debate contou com a presença do presidente Joaquim Neto, do diretor de Extensão Chico Dantas, extensionistas e pesquisadores do IPA.

23 de maio – Extensionista do IPA, indígena Xukuru Iran Ordônio, ganha prêmio na Alemanha O extensionista do IPA – Pesqueira, agrônomo Iran Ordônio, do Coletivo de AgriCultura Jupago Kreká, foi junto a Bela representar o povo Xukuru do Ororubá no prêmio Lush Spring Prize em Berlim, na Alemanha, em reconhecimento ao seu trabalho com regeneração na Mata da Boa Vista.

A criação da Casa de Sementes Mãe Zenilda e o fortalecimento da agricultura ancestral indígena são algumas das inúmeras ações do Coletivo.



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Produção e armazenamento de forragem,
um projeto estratégico

A palma forrageira salvou a pecuária leiteira do Nordeste

O Semiárido tem testemunhado uma série positiva de cinco anos de chuvas, acima da média anual, na maior parte de seu território. Apesar do período auspicioso espera-se que a região não tenha que se defrontar em breve com um ciclo seco. Que esta série de anos com boas chuvas perdure por um longo período.
Recordar é necessário. Neste caso sendo, bom lembrar que a tecnologia líder que garantiu a manutenção e o crescimento da produção de leite no Nordeste desde o ano de 2012 foi o repovoamento e ampliação das áreas cultivadas com palma forrageira.
A cultivar Orelha de elefante mexicana, identificada pelo programa de pesquisa do IPA em associação com algumas instituições do Nordeste tem se constituído na mais importante opção de cultivo nas novas áreas perfazendo uma fração superior a 80% das novas áreas de plantio.

Foram várias as iniciativas estaduais em distribuir raquetes da cultivar resistente à cochonilha do carmim, que resultaram na reconstituição da área original da palma, cultivar Gigante, destacando-se os esforços dos governos estaduais de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Paraíba e Ceará.
A importância das instituições e o comprometimento do produtor
Este é um exemplo clássico de como uma iniciativa pode ser bem-sucedida em assegurar o fortalecimento de uma atividade econômica, neste caso a pecuária bovina, caprina e ovina, que representam as cadeias produtivas mais destacadas no semiárido dependente de precipitações anuais.

Avalia-se que caso as raquetes ou cladódios que foram distribuídas houvessem sido devidamente plantadas, a área de palma forrageira no Nordeste seria atualmente em torno de um milhão de hectares, quando as estimativas apontam para uma área cultivada que varia entre 500 e 600 mil hectares.
Preze-se os esforços de instituições como as organizações estaduais de pesquisa e extensão rural, as secretarias municipais de agricultura, as associações, sindicatos e cooperativas de produtores, o suporte financeiro do governo federal em ao menos dois grandes programas, financiados via MCTI e MDA, o comprometimento de grupos de pesquisa e ensino de várias instituições de ensino superior e, mais do que tudo ressalte-se o programa de melhoramento genético de palma forrageira que vem sendo conduzido no estado de Pernambuco há mais de cinquenta anos sem o qual não se contaria com a cultivar Orelha de elefante mexicana ou os novos materiais em via de registro e liberação.

Que opções restam ao semiárido?
Falou-se dos cactos, fundamentalmente das espécies de palma forrageira, entretanto não se pode deixar de citar as demais opções com espécies gramíneas, da família Poacea, que ao longo das últimas décadas foram objeto de um extenso trabalho de pesquisa e difusão tecnológica, conforme se segue:
. Sorgos – Os sorgos forrageiros ou aqueles que visam a maior produção de biomassa, usados em especial na produção de silagem têm utilizados de modo extensivo, a exemplo das cultivares IPA 73001011, IPA SF 15 e Ponta Negra. O primeiro desenvolvido pelas equipes do IPA, o segundo pelas equipes do IPA e da Secretaria de Agricultura de Alagoas e o terceiro em um esforço conjunto dos grupos de pesquisadores da Embrapa e da Emparn, do Rio Grande do Norte.

Milhetos – As cultivares de milheto pérola, da espécie Pennisetum americanum, são praticamente oriundas de um material liberado há cinquenta anos, o IPA-Bulk1. Material amplamente adaptado aos ecossistemas do Cerrado e, desde o primeiro momento parte fundamental na adoção do sistema de plantio direto. Ainda usado de forma intensa na área central do Brasil, mas necessitando de uma retomada de difusão quanto a vantagem da cultura como produtora de feno no semiárido.
. Capim Buffel – Desde os anos sessenta do século passado dezenas de cultivares foram introduzidos de diversos países, notadamente da África e da Ásia. Continua sendo os materiais preferidos para pastejo, embora hoje o mercado possa oferecer um amplo conjunto de opções de outros gêneros. Recentemente a Embrapa estabeleceu uma iniciativa de desenvolvimento de cultivares de capins próprios para o Semiárido, incluindo o capim buffel, o que tem contribuído para o crescimento da pecuária de corte em vários ambientes da região.
Gliricídia, pornunca, leucena, feijão guandu – Trata-se de um conjunto de opções direcionadas a melhoria da qualidade da alimentação animal devido a elevados teores de proteína, que complementam o cardápio de oferta além dos cactos e das gramíneas.
Portanto não é por falta de opções que cada estado ou município deixará de instituir ou manter seus programas de extensão rural e assistência técnica visando atender o produtor do semiárido.

Um trabalho de longo prazo com as espécies nativas
Esta questão foi levantada em textos anteriores. A descontinuidade das ações de pesquisa é o principal fator limitante da baixa capacidade efetiva de identificação de espécies forrageiras nativas adaptadas ao Semiárido. Esta é uma das áreas que requererá do MCTI, das Secretarias estaduais de ciência, tecnologia e inovação e dos bancos que operam o crédito rural no Nordeste, apoiar de modo incondicional. A maior parte das cultivares forrageiras em uso na região não foram introduzidas ou desenvolvidas pelos programas de pesquisa regionais, mas que se reconheça, introduzidas e que têm contribuído com a pecuária regional.
Já no que se refere às espécies nativas, a situação é bem mais crítica. Pela importância do bioma Caatinga, a riqueza de sua biodiversidade e, atualmente, o número de grupos de pesquisa na área de forragem disponíveis nas instituições científicas regionais, o tema deverá ser tratado como estratégico e objeto de financiamento contínuo para as propostas relevantes do ponto de vista científico e de aplicabilidade demonstrada.

A seca não pode sair de nosso radar
O que se tem tentado demonstrar é que sendo a seca um fenômeno de caráter permanente, a região semiárida deve ser objeto de iniciativas científicas contínuas, enfatizando a cooperação interinstitucional e o fortalecimento da parceria com universidades e instituições de pesquisa do exterior.

Um fato positivo divulgado esta semana foi a aquisição e instalação pela Cedan, uma empresa de alimentação animal, do empresário João Daniel, localizada em Serra Talhada, de um espectroscópio NIR, do inglês ´near infrared`, um instrumento capaz de analisar centenas de amostras ao dia e medir a composição centesimal de uma extensa gama de moléculas ou compostos químicos. Além de otimizar sua política de controle de qualidade e de rastreamento da origem da matéria prima, a Cedan passa a ser uma indústria que pode compartilhar esses serviços de forma comercial com outras empresas regionais e estabelecer parcerias com vários programas e pesquisa científica da região. Parabéns, Cedan, pela iniciativa. Um passo extremamente positivo no fortalecimento no uso do conhecimento e da ciência nas atividades empresariais do semiárido brasileiro.

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IPA lança programa Campo Novo na região do Araripe

O presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Bartolomeu Monteiro, lançou na manhã desta terça-feira (08), o Programa Campo Novo Ano safra 2022/2023. O evento aconteceu na sede do Sebrae Araripe, em Araripina.
 
A Região de Desenvolvimento do Sertão do Araripe foi a primeira a receber a iniciativa. Serão distribuídos 155.800 quilos de sementes de sorgo, milho e feijão, beneficiando 25.978 famílias de agricultores dos municípios de Araripina, Bodocó, Exu, Granito, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Santa Cruz, Santa Filomena e Trindade.
 
O investimento total é de R$ 1.541.103,50, com estimativa de que sejam plantados 8.843 hectares de área e produção estimada em 186.360.769 quilos de produtos. Na comercialização, os valores devem chegar a R$ 122.283.916,67.
 
“Este ano, o programa teve um incremento de 9% no valor investido, em relação ao ano anterior. Isso implica em uma maior área plantada e um número maior de famílias beneficiadas”, destaca Bartolomeu Monteiro.
 
É importante destacar ainda que para cada Real investido nesse programa, existe uma expectativa de retorno estimada em R$ 79,35. Isso demostra a importância dessa ação para a promoção o desenvolvimento socioeconômico da região pernambucana do Araripe, além de contribuir com a redução da fome e da pobreza, conforme preconiza os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Participaram do evento de lançamento os diretores de Extensão Rural, Bruno Santos e Pesquisa, Danusa Correia, o gerente do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DEAT) Maviael Fonseca, a gerente do IPA para a região do Araripe, Marlene Resende, além da deputada Roberta Arraes.

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Artigo – A mecanização na pequena e média propriedade | Por Geraldo Eugenio

Em qualquer que seja a região das grandes civilizações esta observação trouxe uma folga a todos e um pouco mais de tempo foi destinado à convivência com a família.

Tudo começou com o cajado

O cultivo de plantas e a domesticação dos animais foram as iniciativas que mudaram definitivamente o hábito do homem para a vida em comunidade e seu sedentarismo. Deixou de vagar e sair todos os dias à procura do que comer, aí valendo tudo, da coleta, à caça, à pesca, ao roubo. Valia tudo. Imagine-se o dia em que nosso amigo José descobriu que algumas sementes que não foram aproveitadas e que haviam sido jogadas foram começaram a germinar.

Em qualquer que seja a região das grandes civilizações esta observação trouxe uma folga a todos e um pouco mais de tempo foi destinado à convivência com a família.

Além das plantas, o gado foi domado, passou a contar mais facilmente com o leite, a carne, a pele e os ossos que serviram de faca, lança ou de matéria prima para a arte da costura e do bordado.

Naquele tempo, os riscos eram constantes e a defesa uma prática que consumia energia, trabalho e inteligência ainda mais do que hoje. E aí vem o cão de guarda a ser o vigia, o amigo e companheiro daquele mundo solitário.

O fato de se observar que a abertura das covas com um cajado permitia que se plantasse uma área razoável em muito pouco tempo. Foi um grande ganho em termos tecnológicos e aí se iniciou a mecanização das práticas agropecuárias.

Chegou-se ao arado à tração animal

Após o cajado surgiram as enxadas ou instrumentos parecidos com os atuais. Os arados, inicialmente de madeira, acionados pela força motriz do boi, búfalo ou cavalos e iniciou-se o controle da água em terras que foram protegidas e terraceadas. Estas foram grandes contribuições dos nossos irmãos indianos. Por alguns milhares de anos, o mais moderno em termos de tecnologia agrícola foram equipamentos relativamente simples, com a incorporação fenomenal do ferro como parte dos componentes mecânicos, em particular como bicos dos arados que penetravam melhor o solo e se desgastavam muito menos.

O trator substituindo a tração humana e animal  

Agora, imaginemos o grande avanço que foi o motor a vapor, que entre as incontáveis finalidades, passou a ser usado no tracionamento de máquinas e equipamentos agrícolas. Isto se deu por aproximadamente cem anos. Entre o século XIX e XX. Apenas a partir dos anos 30 do século passado os motores de ciclo Otto foram incorporados de modo definitivo à mecanização agrícola. Por sinal, algo muito recente. A evolução foi tão rápida que hoje são disponíveis no mercado centenas de marcas de tratores em todos os continentes. Em dimensões diferentes e para os mais diversos propósitos.

As pequenas máquinas e equipamentos farão a diferença

Cheguemos ao Semiárido e se parte do princípio de que apesar do tamanho aparentemente grande de alguns imóveis, a malha fundiária é formada basicamente por pequenas e médias propriedades. Uma outra constatação é a de que as áreas aproveitáveis para um cultivo comercial são uma fração do todo.

Em se investir no desenvolvimento da atividade agropecuária nas áreas consideradas melhores em cada fazenda, há de se convir que a extensão foi reduzida sensivelmente e já não se trata de plantios de centenas ou algumas dezenas de hectares, na grande maioria dos casos de áreas reduzidas que sequer chegam a um hectare.

A demanda da mecanização nesta propriedade excede a oferta de máquinas e equipamentos encontrados no mercado, demandando-se um conjunto de equipamentos de tamanho menor, de fácil manejo e manutenção, baixo custo e versatilidade que possam ser adquiridos ou locados por um pequeno ou médio produtor.

Alguns países da Ásia têm sido exemplares nesta função, a exemplo da Coréia do Sul, da China, do Japão, além da Índia. Vale a pena lembrar que em 1995, entre os atrativos da Exposição Nordestina de Criadores, em Recife, uma amostra de equipamentos e máquinas de indústrias da província chinesa de Sichuan. Ficou nisso e não se conseguiu dar o passo à frente. Quase vinte anos depois, a Embrapa e a Abimaq, que em sua ação para o Nordeste contava com a liderança do nosso amigo Alexandre Valença, então Secretário de estado no Governo de Pernambuco, formataram a Agrishow do Semiárido, exposição que tinha como uma das principais finalidades valorizar as dezenas de empresas do segmento metalmecânico da região Nordeste ligadas à agropecuária.

A Agrishow do Semiárido persiste, mas já não se houve falar tão claramente nesta sua função que é determinante à evolução do agronegócio regional.

Mesmo com o plantio direto e a integração lavoura pecuária floresta

Nesse intervalo ocorreram alguns fatos que marcaram a história recente da agricultura brasileira. A adoção do planto direto, ou na palha e da integração lavoura-pecuária-floresta, o conhecido ILPF. Avançou-se bem na região do Cerrado. Consolidou-se o plantio direto e em 15 milhões de hectares se pratica a ILPF. Essas práticas também devem ser adotadas de modo intenso no Semiárido, respeitando-se as particularidades de solo, clima e relevo. É neste sentido que há de se admitir que o uso das tecnologias disponíveis em comunicação, energia renovável, educação, comércio, que serão objeto de uso sistemático e interconexão na região Nordeste, também demandará a contribuição da indústria de máquinas e equipamentos destinado ao agronegócio local e que possa ser objeto de aquisição por um pequeno ou médio produtor.

Há alternativas ao modelo de negócio visando o suprimento de máquinas e equipamentos, uma das mais interessantes são as empresas prestadoras de serviços que crescem a cada momento, mas para os imóveis e atividades que demandem ou optem por equipamentos próprios, adicionar à agenda esta busca por opções e modelos compactos seja recomendável. A Ásia está ali e Marco Polo guiou-se através da rota da seda. Vale a pena não ser um mero observador.

Professor Titular da UFRPE-UAST

Fonte: Jornal do Sertão

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Artigo – O café da manhã sertanejo: único e exótico | Por Geraldo Eugênio

Os mercados persistem e com eles as bancas de comida

Um local sagrado no comércio local é o mercado público. Alguns mais ou menos organizados, mas uma visita obrigatória principalmente para aqueles que ultrapassaram os cinquenta.

O queijo de coalho de Bodocó é algo especial, encontrado todos os dias, mas não ficam atrás dos queijos locais, em particular um queijo de manteiga que vem da região de Batalha, aqui em Serra Talhada. Tão saboroso quanto os melhores queijos do Agreste Meridional ou do Sertão de Alagoas.

As bancas de cereais, destacando-se os vários tipos de arroz vermelho e as farinhas de mandioca, da ultrafina à granulada, da branca à amarela. Um outro item que representa a região é o feijão de corda. Vários tipos expostos nos sacos abertos à espera do freguês. As rapaduras que já não são tão puras, a grande maioria não é fabricada a partir de cana-de-açúcar e tanta coisa mais que se encontra em um mercadinho ou supermercado.

Uma seção à parte é o açougue e a peixaria. Em nenhuma região a rabada e o mocotó são tão valorizados. Os caldos dessas duas iguarias é marca registrada entre as barracas de comida, hoje denominadas praças de alimentação.

 Os principais pratos encontrados às seis da manhã

E logo cedo, o freguês se depara com as barracas abertas e suas donas e assistentes prontas para servir. O que encanta e ao mesmo tempo assusta aos visitantes é o cardápio típico na maioria das cidades do Sertão.

O café-da-manhã que se preza não pode deixar de contar com cuscuz, arroz vermelho e macaxeira. O consumo de inhame e batata-doce é bem menor do que o do Agreste, bem como o pão. Não deixa de ter, mas definitivamente não faz parte do andar de cima.

E de mistura, o que se encontra? Nada menos do que o caldo de mocotó, o guisado de boi, guisado de bode, galinha guisada e, por incrível que pareça, sarapatel.

Na feira livre, na Barraca de D. Alda, aqui em Serra, há um prato que provoca filas: o caldo de rabada, acompanhado de cuscuz.

A primeira questão que vem à cabeça do visitante é saber se a senhora do outro lado do balcão ou da mesa entendeu bem. Café-da manhã ou almoço? Foi bem entendido, sim. Isto é o que se consome nas feiras e mercados do Sertão. Pratos sempre fartos que vêm acompanhados de um café puro encorpado, mas quase sempre com mais açúcar do que deveria.

O exotismo para quem não conhece a região

A dupla pão e ovo, tão presente no café da manhã das regiões mais ao sul, não são os mais consumidos. O que é algo pouco entendido por nossos colegas. Imagine-se o fato de, ao amanhecer, já se contar com sarapatel, aí a coisa toma uma outra dimensão.

Toma tempo para quem vem ao convívio da caatinga entender, mas com pouco tempo entende muito bem o que representa ao sertanejo da roça ter que enfrentar um dia de lavoura ou pega de boi. É duro e necessita de energia extra.

Durante todo o dia, em nossas barracas, um prato de sabor único é aqui encontrado, o manguzá salgado à base de milho amarelo, feijão de corda, charque ou carne de sol e linguiça, temperado com cebola, alho, sal, pimenta do reino e cominho. Ao final adicionando-se coentro e cebolinha picados. Também pode ser preparado com carne de galinha, em especial as partes que contêm ossos, o que dá um gosto especial.

Cresci sabendo que o manguzá doce, ou o chá-de-burro, como também era conhecido, era feito com milho branco ou amarelo, leite de coco, açúcar e cravo. Também foi ensinado que se tratava de um prato de origem Africana, o que faz sentido. Esta receita sofre variações. No Sudeste e Sul é conhecida como Canjicão. Podendo a ele ser adicionado amendoim esfarelado ou coco ralado.

No caso do manguzá salgado, não há dúvida de que foi criado para atender ao homem da roça, utilizando-se do milho e do feijão e de qualquer mistura que se contasse. Prato com essas características somente nos sertões de Pernambuco, Paraíba e Ceará.

 Nutrição para todo o dia

O que se conclui a partir do que foi descrito é que após o consumo de uma dessas receitas, nem sempre em doses econômicas, o cliente está pronto para a jornada. A maioria dos frequentadores são pessoas humildes que trabalham em atividades exigentes em energia. Seus ganhos são parcos e nem sempre contam com dinheiro para as três refeições.

Aí está a lógica do cardápio. Quem não contar com um bom café dificilmente passará um dia saudável e para evitar interromper o trabalho ao longo da jornada, a melhor opção é se contar com o que existe de mais energético e proteico.

O caldo de mocotó simboliza como nenhum outro este padrão. Símbolo de nutrição rica em carboidrato, proteína, colágeno. Enquanto a proteína e o colágeno vêm da mão-de-vaca, o carboidrato é fornecido pelo cuscuz ou o arroz vermelho. 

Fica o convite. No Sertão, não deixei de ir à feira logo cedo e procurar pelas barracas de comida. Conheça este cardápio especial e único. Não se assuste. Você vai gostar, voltar e se tornar um apreciados desses sabores.

Professor Titular da UFRPE-UAST

Fonte: Jornal do Sertão

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Artigo – Para onde irão nossos jovens? | Por Geraldo Eugênio

Na última década do século XX houve uma explosão de escolas superiores privadas. Dezenas de faculdades foram instaladas em cidades do interior, abrindo uma perspectiva para que os jovens não tivessem que, obrigatoriamente se deslocarem até Recife

Tudo era dificuldade e sacrifício

Lá se vão anos e fica claro quão familiar eram os ônibus da Progresso para aqueles jovens do Sertão de Pernambuco que vinham de famílias que permitiam estudar em Recife ou nos centros maiores do país.

Algumas famílias podiam financiar um aluguel e as despesas do dia a dia, outras contavam com parentes que recebiam suas filhas e filhos e havia um terceiro grupo que se aconchegavam nas casas de estudantes da UFPE ou nas mais humildes e mais distantes acomodações da UFRPE. Importante deixar claro que este contingente representava uma pequena parte da juventude. A maioria dos amigos de escola e de farra ficaram para trás e somente seriam revistos quando dos feriados longos ou durante as férias.

Este era o padrão não apenas para nossa juventude, mas para jovens oriundos do Ceará a Sergipe que tinham em Recife a referência para uma escola de qualidade e um futuro promissor. Entre os que não conseguiram sair, mentes brilhantes pelo fato de não terem como financiar este esforço, foram enterradas nos bares e praças.

 As portas foram sendo abertas

É bom lembrar que a primeira grande ação se deu ainda em 1975 quando foi instituído o crédito educativo. Os jovens mais pobres puderam acessar a este empréstimo que representava algo como um salário-mínimo mensal, basicamente alforriando-se e podendo viver uma vida mais digna, alimentar-se, adquirir seus livros e até se divertir. Conheço um amigo que chegou a levar um fogão de Recife à sua cidade para presentear a mãe. Uma façanha inimaginável, já que sobreviver era uma arte e uma luta que nem todos enfrentavam até o fim.

Mesmo assim, havia a seleção natural aplicada, uma vez que as vagas, para a maioria das profissões, eram limitadas e  poucas as escolas de educação superior existentes no Agreste e Sertão, à exceção das briosas e exemplares Faculdades de Formação de Professores, fundadas a partir dos anos 70. Até então a maioria dos professores do ensino fundamental e básico não possuíam diplomas de nível superior e, em muitas localidades sequer haviam passado por uma Escola Normal ou equivalente.

Ocorreu uma verdadeira revolução

Na última década do século XX houve uma explosão de escolas superiores privadas. Dezenas de faculdades foram instaladas em cidades do interior, abrindo uma perspectiva para que os jovens não tivessem que, obrigatoriamente se deslocarem até Recife.

A grande mudança se deu a partir do início deste século quando o programa de expansão universitário foi posto em prática bem como o FIES. Este último, um crédito educativo que permitia o pagamento dos custos dos alunos mais carentes em escolas particulares.

Pernambuco, como todos os estados do Nordeste, soube ser beneficiária deste movimento em menos de uma década viu uma malha de campi universitários, novas universidades públicas e privadas e institutos estaduais e federais de educação serem postos a funcionar.

Em Garanhuns foi instalado o primeiro campus universitário em todo Brasil, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, deste povoamento cidades interioranas com escolas superiores.

A partir do final da primeira década centenas de jovens engenheiros, médicos, nutricionistas, agrônomos, veterinários, economistas, professores passaram a sair das escolas aqui instaladas todos os anos. Não são poucos que representam o marco inicial do ensino universitário para inúmeras famílias do interior. Foi uma grande vitória, se reconheça.

 Não pare. Ainda há questões a serem resolvida

Neste momento, em Pernambuco, o grande desafio é o emprego e a renda. A pandemia ceifou milhares de postos de serviço e o número de pessoas desempregadas ou sem renda é um dos maiores do país.

Mesmo com governos apresentando superávits e dinheiro em caixa, o fantasma do desemprego incomoda e perturba a todos a qualquer momento. Como não poderia deixar de ser fica claro que não haverá a mínima chance de o serviço público absorver a mão de obra qualificada que sai das escolas e universidades, nem os segmentos comércio, indústria, agricultura e serviços é capaz de aproveitar este contingente.

Por outro lado, é importante frisar que se não há como aproveitar este capital humano qualificado algo está errado entre nós. Não é fácil voltar a casa dos pais após anos a fio na universidade passando a imagem e percepção de que aquela ou aquele jovem seria o caso de sucesso da família.

A região conta com o seu desenvolvimento com o mais importante capital posto a sua disposição, a formação superior. As empresas, sem exceção, reconhecem a qualificação do corpo funcional e do melhor preparo de sua mão de obra, ótimo. Mesmo assim ainda são milhares de jovens do interior em busca de uma oportunidade. A primeira chance.

Resta aí o desafio de se estabelecer bases para a retomada do crescimento econômico beneficiando as empresas e empreendedores que se encontram no mercado, mas, ainda mais importante, conseguir avançar com a formação de novas empresas e a interiorização do desenvolvimento tecnológico.

A juventude do interior deverá ter a mesma chance de sucesso quanto aquela que está em Recife, em Caruaru ou Petrolina. As escolas de ensino superior devem ser avaliadas pelo sucesso de seus egressos. O que estão fazendo e quanto estão auferindo dois anos após a formatura? Essas instituições têm que vestir o fardão do desenvolvimento social, humano e econômico das regiões e ser objeto de mudanças radicais nos ambientes em que foram instaladas.

As centenas de empresas que surgirão desse movimento serão as futuras fontes de emprego. Afinal seus sócios sabem do que estão falando. A associação entre riquezas naturais, fortalecimento institucional e o conhecimento serão imprescindíveis ao desenvolvimento de qualquer região ou país, sem exceção.

Professor Titular da UFRPE-UAST

Recife, 27 julho de 2022

Fonte: Jornal do Sertão

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Artigo – As feiras de animais

O comércio de gado no semiárido brasileiro tem como base as feiras de animais. Não são poucos os municípios que contam com pátios que dispõem de organização e estrutura capazes de permitir um comércio semanal de animais para cria, recria e abate, em particular no caso de bovinos e, em algumas cidades e vilas também para caprinos e ovinos.

Trata-se de um modelo centenário de comercialização, desde quando se deram as entradas Sertão adentro por pecuaristas da Bahia e de Pernambuco nos séculos XVII e XVIII. Modelo esse acentuado pelo transporte de mercadorias, bens e pessoas por tropas que rendilhavam todo o Agreste e Sertão até metade do século passado.

Algumas regiões mais férteis e com melhor distribuição de chuvas se tornaram polos de pecuária de leite e nos locais mais áridos e secos, a pecuária de corte. Caprinos e ovinos também foram incorporados a este sistema de produção animal, de modo mais relevante em áreas bem definidas do Sertão de Pernambuco.

A produção de carne bovina é impulsionada

Uma vez que as metrópoles e principais cidades da região são abastecidas por carne bovina proveniente de outros estados, a pecuária de corte, não dispensava uma melhor atenção por parte das instituições e até dos fornecedores de crédito, normalmente bancos oficiais.

Desde quando uma grande quantidade de imóveis rurais, antes utilizados para o plantio da cana-de-açúcar, depois pela pecuária de leite, foi desativada, iniciou-se a expansão da pecuária de corte, primeiro na Zona da Mata, seguindo-se do   Agreste  para o Sertão. Mas sempre com produção menor do que a demanda regional.

Nos últimos cinco anos já se notava uma maior valorização dos produtos cárneos e uma busca por animais de corte em substituição a planteis leiteiros, no interior de Pernambuco, culminando com um aumento expressivo dos preços no período de pandemia mudando fortemente o perfil da produção e do produtor em todo o Brasil.

Abatedouros em Pernambuco

Com o anúncio da construção de um abatedouro em Cachoeirinha, no Agreste, com uma capacidade de abate de 650 animais dia, uma corrida à melhor qualificação do gado de corte foi posta em curso, implicando na valorização até mais do que esperada de animais da raça Nelore.

Nesta última semana, um abatedouro de empresários locais foi inaugurado em Serra Talhada com a capacidade de receber 130 bovinos por dia, ou o equivalente a 40 mil animais ano. O que é um número expressivo para uma pecuária que tem se caracterizado como uma atividade secundária.

Faltam laticínios

Já no caso do leite a situação é um pouco mais complexa. Um abatedouro de porte médio não se estabeleceu em Serra Talhada, comprometendo uma bacia leiteira que estava sendo construída no Pajeú. Os laticínios atuais, como Betânia e Bom Leite estão distantes e não compensa transportar leite a uma distância de 250 km para ser processado. Uma vez que a teoria econômica é clara para o preenchimento de espaços vazios, há de se aguardar que em breve se possa contar com uma indústria de processamento de leite com capacidade de recepção entre 50 e 100 mil litros de leite que possa alavancar a pecuária de leite regional.

O mercado fazendo sua parte, o que se espera do governo

Dentre os gargalos apontados aparece em local de destaque uma maior dinâmica para a Agência de Defesa que apresenta deficiência de recursos humanos, e infraestrutura operacional limitando sua ação educativa seja no que se refere ao abate quanto à produção de produtos lácteos.

Fica claro também que diante dos desafios das mudanças climáticas em curso, um dos fatores mais relevantes ao sistema produtivo é o custo da alimentação. O preço do farelo de soja, do milho, bem como da silagem e do feno tornaram-se quase que proibitivos em alguns ambientes, fazendo com que o produtor tenha que procurar explorar ao máximo a capacidade de produção de alimentos e depender de fontes externos o mínimo possível. Logo fica clara a necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento destacando-se o desenvolvimento de novas cultivares de palma forrageira e capins de corte e pastejo capazes de tolerar estresses hídricos mais intensos e altas temperaturas.

No caso do melhoramento animal, em se tratando de bovinos, a predominância do genoma do Nelore é indiscutível. A cada ano, o percentual de produtores que opção por esta genética é maior, embora como em qualquer sistema de produção não se deva jogar todas as fichas em uma única opção. Havendo algum problema que possa afetar esta raça, toda a pecuária brasileira de carne estaria sendo sacrificada por longos anos à frente.

Em relação ao gado de leite, apesar dos avanços obtidos pelos programas de inseminação artificial e transferência de embriões, há um patrimônio genético, em Pernambuco, digno de reconhecimento. São os plantéis de gado Holandês, na Estação Experimental de São Bento do Una; Girolando, em Arcoverde e Guzerá, em Serra Talhada que merecem uma atenção especial.

Atualmente a genética nobre disponibilizada por esses plantéis não está sendo objeto de um programa sistematizado de inseminação artificial e muito menos de transferência de embrião, o que deve ser posto em prática urgentemente. Ainda persiste o comércio de tourinhos e novilhas em leilões periódicos, prática que deve ser estimulada e apoiada, uma vez que não são poucos os criadores do Agreste e Sertão de Pernambuco têm seus planteis formados a partir de aquisição nesses leilões.

Não é muito o que necessita ser feito, entretanto não se pode comprometer o que foi construído ao longo de décadas. Aí sim, é que não haveria retorno e tudo voltaria a estaca zero, o que não é do interesse de ninguém, particularmente dos pecuaristas do estado.

Fonte: Jornal do Sertão

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