NOTA TÉCNICA – Seca e calor: É o que as tendências climáticas apontam para os próximos 03 meses no Nordeste brasileiro
por Francis Lacerda
Confira nota técnica desenvolvida pela climatologista e pesquisadora do IPA, Francis Lacerda
por Francis Lacerda
Confira nota técnica desenvolvida pela climatologista e pesquisadora do IPA, Francis Lacerda
Nos últimos anos vários trabalhos foram publicados com o propósito de avaliar os cenários resultantes do aumento global da temperatura e seus impactos nos oceanos, na atmosfera, na biosfera, nos seres vivos e nas sociedades humanas. O mês de junho de 2024 foi o mais quente para o período na história da humanidade, de acordo com dados divulgados pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus – sistema de observação da Terra da União Europeia, em 08/07/2024.
De acordo com relatório publicado pelo organismo, junho passado registrou uma temperatura média de 16,66ºC, 0,14ºC acima do recorde anterior, de 2023, e 0,67ºC maior que a média do período entre 1991 e 2020. O relatório divulgou que se trata do 13º mês consecutivo de recorde mensal de calor, reforçando as projeções que 2024 deve superar 2023 como ano mais quente na história. Em 2013 o quinto relatório do IPCC concluiu com confiança acima de 90% que o aquecimento global dos últimos é consequência do aumento da concentração de gases de efeito estufa de origem antrópica na atmosfera. E que o Nordeste é vulnerável às mudanças climáticas com processos de desertificação, eventos extremos (secas e chuvas intensas). Pernambuco é hotspot do clima.
A temperatura média global foi 1,64ºC acima da era pré-industrial, nos últimos doze meses, superando a marca de 1,5ºC – meta do Acordo de Paris para o fim deste século. Se essa tendência se mantiver, a humanidade deve conviver nas próximas décadas com aumento constante do nível do mar, ondas de calor mais frequentes e um crescente número de fenômenos extremos, incluindo furacões, secas, ondas de calor, enchentes etc…
Oceanos
As temperaturas da superfície do mar (TSM) também atingiram recordes máximos de anomalias positivas de temperaturas (valores acima do padrão normal) no Atlântico, Pacífico Norte e Índico gerando aumento das temperaturas e ondas em todo o planeta.
Em junho/2024, as TSM atingiram, por 15 meses consecutivos, valores significativos. Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e absorvem 90% do calor adicional associado ao aumento das emissões de gases do efeito estufa.
Atualmente, estamos entrando num período de resfriamento do Oceano Pacífico, a ‘La Niña’, que tem um efeito de diminuir a temperatura global nos próximos meses.
O observatório Copernicus divulgou que há 80% de probabilidade de que as temperaturas médias anuais da Terra superem, o limite de 1,5ºC nos próximos cinco anos. Os recordes tem graves consequências para a vida no planeta, como um todo, e que estão expostos a eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos.
Possíveis Impactos
No caso de Pernambuco, modelos indicam um aumento mínimo de 2ºC e máximo de até 8ºC no NEB (MCTI, 2016). As tendências nas séries históricas das temperaturas diárias máximas e mínimas evidenciaram um aumento de até 5ºC nos últimos cinquenta anos, no Semiárido. No caso da chuva, os estudos recentes sinalizam para duas situações: aumento da frequência de fenômenos extremos (chuvas mais fortes e veranicos prolongados), e redução da precipitação anual (com forte variabilidade) em regiões do Sertão de Pernambuco, com taxas de redução que atingem a casa dos 10 mm/ano. Essas análises remetem a projeções que poderão comprometer a segurança alimentar e hídrica em Pernambuco. Em síntese, os estudos revelaram diminuição das chuvas e aumento no número de extremos climáticos; áreas do semiárido se tornando mais áridas; temperaturas máximas e mínimas em elevação; diminuição na disponibilidade de água no solo e nas bacias hidrográficas e aumento da evapotranspiração. Essas alterações no clima associadas àquelas de natureza antrópica (e.g. desnudamento vegetal) estão causando perdas da biodiversidade e graves impeactos nos ecossistemas. O resultado dos estudos dos impactos da mudança do clima aponta para a necessidade de uma mudança de um novo paradigma socioeconômico em termos de desenvolvimento sustentável e harmônico. A vulnerabilidade social combinada aos efeitos negativos das mudanças climáticas sobre a oferta de alimentos deve agravar a insegurança alimentar. Portanto, as ações de segurança alimentar e nutricional para enfrentar as mudanças climáticas devem focar especialmente nas pessoas e setores sociais mais vulneráveis e em condições socioambientais precárias, que são os que mais sofrem com seus efeitos.
Por Francis Lacerda