O MapBiomas, que é uma rede de monitoramento em tempo real por iniciativa do Observatório do Clima, já demonstra que a Caatinga é a mais desmatada ilegalmente dentre os biomas no Brasil. Cresceu 405% ante 9% da Floresta Amazônica. O tema chamou a atenção do Senado, que promoveu audiência pública na quarta-feira (27), um dia antes do Dia Nacional da Caatinga.
Entre os pesquisadores convidados, destaque para Francis Lacerda, climatóloga e coordenadora do Laboratório de Mudanças do Clima do Instituto Agronômico de PE. Ela também integra o Ecolume, rede científica que devolveu e implantou uma tecnologia social adaptativa às mudanças climáticas voltada para a produção consorciada de alimento, energia, água e o reflorestamento. E tem transformado seca em riquezas, gerando trabalho, renda e cidadania para as famílias rurais envolvidas
Ao invés de escassez, as famílias rurais da Caatinga, bioma 100% do Brasil, mas ainda sem lei nacional para sua proteção como tem a Mata Atlântica e Amazônia, poderiam está colhendo agora, em mais uma Dia Nacional da Caatinga (28 de Abril), toda a sua abundância ambiental e socioeconômica (R$ 10 bilhões com a produção consorciada de energia e alimentação). Porém, para isso, era preciso que a vegetação caatingueira não estivesse sendo tão derrubada pela falta, sobretudo, de estratégia política e de negócios diante das oportunidades que se abrem com as mudanças climáticas já em curso.
Se devastam é porque ainda faltam nuitas políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas, a exemplo de tecnologias sociais inovadoras, como a desenvolvida pela Rede Ecolume, já capazez de produzir energia, alimentos, água e ainda estimular o recaatingamento (replantio da vegetação originária e geneticamente adaptado ao clima). Felizmente, apesar de ser só um debate inicialmente, o assunto foi tratado em Audiência Pública no Senado, na Comissão de Meio Ambiente, na quarta-feira (27), pela manhã.
Dos quatro palestrantes convidados para o encontro, duas estudiosas são integrantes da rede Ecolume. São elas: a professora da UFPE, Marcia Vanusa, e a pesquisadora do IPA, Francys Lacerda. “Teremos, mais uma vez, a chance de voltar ao Congresso Nacional para debater sobre grande potencial socioeconômico do bioma, na busca de trazer um novo olhar, da escassez à sua abundância”, realça Francis. As riquezas do bioma serão expostas inclusive de terça (26) a quinta-feira (28), no Espaço Mário Covas, na Câmara dos Deputados. A iniciativa é da Frente Parlamentar em Defesa da Convivência com o Semiárido.
Francis lembra que a Caatinga é uma das áreas atuais mais vulneráveis às mudanças climáticas no planeta. E, associado ao desmatamento da sua vegetação, está provocando grande processo de desertificação 20 vezes mais acelerados que anteriormente. Está virando deserto quando poderia está gerando R$ 10 bilhões por ano com a produção de energia e comida em pequenas áreas com tecnologia social simples e barata já implantada pelo Ecolume (agrovoltaico) em PE.
Os primeiros resultados do Ecolume impressionam. Numa pequena área de apenas 24 m², instalado na escola Serta em Ibimirim/PE, o rendimento anual é de R$ 10.362. O montante consiste na produção de 130 kg de peixe (R$ 2,6 mil), 750 ovos de galinha (R$ 365), 810 unidades de vegetais (R$ 1,6 mil), 200 mudas de plantas nativas (R$ 3 mil) e mais R$ 2,4 mil anual com a produção de 4.8 mil KWh das placas fotovoltaicas.
“Uma simulação simples, se o modelo for replicado numa área maior, de 24 Km² da Caatinga, o que equivale a 10% dos pastos degradados do semiárido, o potencial de rendimento é significativo: 10 bilhões por ano”, garante Francis. Apesar de todo esse potencial, o bioma sequer conseguiu força política para aprovar um Projeto de Lei para a sua proteção, mesmo tramitando desde os anos 2000. Não por acaso se destrói tanto.
Fonte: Núcleo de Comunicação