Por Cleber Oliveira Soares

O agronegócio é um dos poucos setores que tem condições concretas de contribuir com o gigante desafio de superar a crise causada pela Covid-19, e outras que poderão vir. Em quaisquer cenários temporais, para mitigar uma potencial crise humanitária, é preciso olhar na perspectiva de oportunidades para o setor. A OMS cunhou o conceito “One World, One Health” (“Um Mundo, Uma Saúde”) para abordar de forma integrada as relações entre seres humanos, animais, plantas e meio-ambiente. E o que o agronegócio tem a ver com isso, com essa pandemia e com crises futuras? Ele é o forte eixo de mitigação de muitos dos problemas, com soluções para liderar uma transformação mundial a partir da conexão alimento-saúde-humanidade. O modelo está baseado em três pilares, uma perspectiva transversal, e consequente resultante. Um dos pilares está na sustentabilidade pela qual o agronegócio brasileiro e global buscará intensificar sistemas de produção cada vez mais sustentáveis, seja no aspecto ambiental, econômico, social e produtivo. Em curso, está a valorização dos sistemas integrados, das rotações e consórcios de culturas, do uso de práticas conservacionistas e alternativas para a exploração sustentável dos biomas. A resiliência ganhará mais espaço, seja nos ajustes dos sistemas de produção ao território, ao bioma e ao ecossistema, como também à demanda do mercado consumidor. Outro pilar baseia-se na segurança alimentar, que terá o papel de entregar valor para os atores das cadeias produtivas, para o consumidor e a sociedade. Há um déficit alimentar no mundo. Nações pobres e algumas populosas vivem quadros de insegurança alimentar. Cerca de 821 milhões de pessoas passam fome e 25 mil morrem de fome aguda todos os dias. A pandemia está contribuindo para aumentar essa tragédia. Neste cenário, o Brasil será essencial, pois já produz o suficiente para alimentar mais de cinco vezes a sua população. O outro lado dessa riqueza estará na habilidade em refinar os sistemas, incrementar produtividade, desenvolver cadeias de ciclo curto, agregar mais e mais valor aos produtos. A segurança do alimento integra o terceiro pilar e é componente vital para essa superação. A insegurança nutricional no mundo é imensa. O agro precisará entregar, a partir de 2027, mais 214 trilhões de calorias para suprir esse déficit. Além da questão nutricional, o consumidor cobra mais qualidade, sabor, suculência, vitaminas, minerais, experiência e outras funcionalidades. A Covid-19 elevará a demanda por inocuidade dos alimentos, este tem que chegar à mesa sem causar nenhum prejuízo à saúde, especialmente em países como o Brasil, onde mais de 50% do hábito alimentar da população é baseado em alimentos in natura. Essa pandemia despertará a exigência e a percepção sobre segurança do alimento. É o princípio, como se diz na pecuária: “saúde entra pela boca”. O digital é a perspectiva transversal e será a ciência transformadora do agronegócio. Desde a gestão de dados, passando por big data, uso de sensores, aplicativos e dispositivos móveis, aprendizagem virtual, até o blockchain, certificações inequívocas, gêmeos digitais e a computação holográfica. A Covid-19 criou um novo dogma no mundo e no agro, o digital será a alavanca para esse salto. Quanto à resultante da fórmula, haverá um novo paradigma nas relações entre as pessoas, com os animais, as plantas, o ambiente, e com tudo aquilo que se consome e se entrega desse ecossistema. A agricultura estará cada vez mais conectada com a vida. Numa visão exponencial, poucos países têm condições de contribuir de forma efetiva para essa equação como o Brasil. Esse novo olhar estará focado em humanidade. ———————–O artigo  está na abertura da matéria de capa da Revista Plant Project trago reflexões sobre o agro e a pandemia de Covid-19. A abordagem de Inovação para esse novo mundo estará baseada em Sustentabilidade, Segurança Alimentar, Segurança dos Alimentos e suportada pelo Digital.